Entenda, eu não estou procurando me encontrar!




Durante os meus 25 anos de vida eu já andei fazendo algumas coisas, mudando de ideia, desistindo de muitas coisas e retomando várias outras. Até mesmo esse blog eu já comecei, recomecei, abandonei e acabei voltando. A maioria dos meus amigos se pergunta se eu realmente me encontrei, toda vez que começo a fazer algo novo. Na verdade, acho que já virou costume as pessoas quererem saber se as outras se encontraram. Se encontrar é praticamente uma obrigação que pelo que as pessoas expressam, deve ser algo essencial, um prerrequisito, na verdade, para que alguém tenha estabilidade e seja feliz (Estabilidade também parece ser um desses prerrequisitos para a felicidade...)


Eu tenho apenas 25 anos. Falo "apenas" mais pelos outros, pois pra mim já é muito tempo. Não que eu ache que 25 anos me dá muita experiência, pelo contrário. Acho que é muito tempo para a quantidade de experiências que já tive, que no meu ponto de vista foram bem poucas. Mesmo assim, também não me considero alguém imaturo. Na maioria do tempo eu não consigo me ver como um adulto, mas como um idoso ou uma criança. Eu sinto como se eu devesse ter feito muito mais coisas, conhecido muito mais lugares, vivido bem mais experiências. Não quelas experiências padronizadas, disfarçadas de subversivas que fazem as pessoas se sentirem descoladas e dizerem que viveram a vida de verdade. Falo das experiências particulares, os anseios que cada pessoa tem. Aquelas vontades únicas que não fazem parte de todo padrão, mas que as pessoas guardam e não dividem com qualquer pessoa. Vi poucos lugares e poucas pessoas, mas sinto que, como as crianças, eu tentei e tento ver as coisas do máximo de ângulos possíveis para mim, investigando e buscando sentir da forma que me absorve mais. Algumas vezes eu não me entendo bem, também, como a maioria das pessoas, mas essa forma de ser (que não é proposital) me traz muita felicidade (e 1% de angústia, também).

Mas voltando ao tema proposto, as pessoas sempre perguntam a mim (que não sei se, aqui dentro, sou velho ou criança) se eu consegui me encontrar. As pessoas sempre me perguntam isso quando me veem feliz, fazendo algo. É muito comum me ver feliz fazendo as coisas que faço. Seja quando eu trabalhei com venda de planos de saúde, quando resolvi colocar uma máquina de xerox com materiais escolares em um dos pontos da minha casa,  quando resolvi abrir uma lanchonete e sorveteria, quando cursei história, quando estudei francês, quando criei meus blogs, quando criei meu canal no youtube, quando criei a minha página no facebook, quando fui budista, quando resolvi entrar em Artes Visuais, quando comecei a trabalhar com fotografia, quando comecei a ser professor ou logo que entrei na capoeira. Sempre quando fiz qualquer uma dessas coisas as pessoas me perguntaram as duas mesmas perguntas de sempre: Agora é isso mesmo o que você quer? Você se encontrou? É como se fosse uma obrigação nossa conseguir encontrar algo para fazer pelo resto das nossas vidas e como se a mudança e a versatilidade não fossem coisas boas.


Durante muito tempo, eu tentei me encontrar. Não que as coisas que eu fazia e as mudanças que aconteciam em minha vida me incomodassem, mas o fato de as pessoas estarem sempre me perguntando se eu havia me encontrado, de certa forma, me faziam acreditar que eu realmente deveria me encontrar. Essa sensação de sempre querer mudar e fazer coisas novas, de não querer parar em algum lugar, me faziam sentir culpado. Era como se as minhas escolhas não estivessem corretas e a felicidade que eu senti fosse algo que não deveria ser sentido. Eu me torturei por muito tempo por causa disso. Me sentia na obrigação de encontrar algo que eu quisesse fazer pelo resto da minha vida. Aquela sensação dos adolescentes, quando estão no Ensino Médio, prestes a fazer o Enem (no meu tempo, vestibular) havia se tornado algo constante em minha vida. A contradição entre mudar e me sentir bem e saber que isso era "errado", era algo que me deixava em uma pilha de nervos, afetava meu sono, meu desempenho e me trazia a sensação de que tudo o que eu fazia, não importava o que eu sentisse, se não fosse algo que eu tivesse a certeza de que faria pelo resto da vida, estava errado.

Um dia, em uma dessas minhas experiências, conversando com um amigo, ele me disse que ficava muito feliz quando encontrava as pessoas e podia falar como a sua vida havia mudado e como ficava desanimado ao saber que a vida das demais com quem ele conversava, permaneciam exatamente iguais. Outra vez, conversando com uma amiga, ela me disse que adorava conversar comigo, pois sempre que me via, eu tinha várias novidades e experiências pra contar. Conversar comigo era uma surpresa e eu era uma das pessoas mais inconstantes, mas também uma das mais interessantes que ela conhecia. Essas duas experiências foram fundamentais para que eu pensasse como penso atualmente.

Hoje eu estou professor de Artes, fotógrafo, capoeirista, youtuber e bloger. As pessoas, como sempre, me perguntam se hoje eu me encontrei. Eu mudei diversas vezes em minha vida, mas as perguntas das pessoas são sempre essas duas mesmas perguntas. O que eu posso responder é que hoje eu estou muito feliz fazendo o que eu faço, mas se amanhã eu não estiver, eu vou procurar fazer outra coisa que me faça feliz. Eu não me encontrei e nem pretendo, caso isso não me faça feliz! Qual seria a graça da minha vida se  eu não precisasse mais me procurar? Eu sou mesmo obrigado a me engessar? As vezes eu penso que quando as pessoas se encontram elas morrem, pois param de se procurar e se aceitam como são/estão e ponto final. Talvez "se encontrar" acabe desumanizando as pessoas e deixando-as perdidas. Espero, sinceramente, que não, pois há muita gente por aí se procurando e talvez essas pessoas se encontrem.

Atualmente estou muito feliz fazendo o que faço e meu objetivo de vida não é ser qualquer outra coisa que não seja uma pessoa feliz. Eu sou feliz mudando, eu sou feliz experimentando e fazendo várias coisas. Eu cansei de pensar que devo me limitar. Hoje eu faço as coisas que acredito que devo realmente fazer, independente do que as pessoas digam. É preciso muita maturidade e humildade para receber conselhos, mas é necessário também, aprender com a vida que há o momento de tapar os ouvidos e ouvir apenas a você mesmo. No dia que você conseguir fazer isso, sem que essa sua atitude seja motivada por arrogância ou orgulho, acredito que você resolveu não se encontrar, mas se perder dentro de você mesmo, o que é uma verdadeira dádiva!

Há diferentes formas de sermos felizes e é preciso que as pessoas aprendam a respeitar essas formas de felicidade. Acredito que nem todo mundo quer se encontrar e o que as faz infelizes é a obrigação de fazerem isso. Nós não precisamos procurar nos encontrar. Nós precisamos procurar apenas sermos felizes e fazer as outras pessoas felizes também, sem que isso seja as custas da nossa felicidade. Não importa quanto tempo você gastou ou vai gastar fazendo isso. Gaste o tempo necessário não ficando parado. O único tempo perdido é aquele que você deixa passar e não o que representa as mudanças no seu percurso. Esse tempo, na verdade, se chama experiência e essas são insubstituíveis, te fazem alguém mais interessante e jamais devem ser chamadas de erro ou serem motivo de arrependimento. Não se encontre! Apenas procure ser feliz.

   

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